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Cosac Naify: um estudo de caso

  • Foto do escritor: Icaro Rodrigues Melo
    Icaro Rodrigues Melo
  • 27 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de jul. de 2024

Alanis Mahara


Afinal, teria a beleza um custo? Artes, ciências humanas, cinema, teatro, design, fotografia, todas essas diversas categorias de livros foram publicadas pela Cosac Naify, tendo em comum a premissa de unir qualidade e beleza no projeto editorial. A Cosac consolidou-se como uma editora que prezava pela experiência visual e artística do leitor diante de uma obra, sendo continuamente premiada e prestigiada pelo público brasileiro em seus 19 anos de atividade. Fundada em 1996, deixou um catálogo de 1.600 títulos - muitos deles atualmente considerados relíquias no mundo literário. Mas então, como é possível explicar a ascensão e a queda da Cosac?


A editora nasceu da parceria entre o colecionador de arte - Charles Cosac - responsável pelo funcionamento da empresa, e seu cunhado, o empresário norte-americano Michael Naify, financiador do projeto. Com essa parceria, os primeiros passos da casa editorial se deram no apartamento de Charles, no bairro Higienópolis, em São Paulo. Após a publicação de Barrocos de lírio, do artista pernambucano Tunga, que contava com mais de 200 fotografias, a Cosac ganhou protagonismo por seu exuberante projeto editorial. Para Charles, era importante viver a vida do livro e pôr-se em função do projeto que estava em pauta. Tal esmero resultou em muitas publicações inventivas que valorizavam o projeto gráfico como parte sensível da experiência literária.


Um projeto editorial que merece destaque na trajetória da Cosac é “A coleção Particular”, que reúne narrativas breves consideradas como clássicos da literatura ocidental. A coleção não se destacava apenas por seus títulos, mas também pela ambição da editora em publicar livros nos quais o projeto gráfico interferiria ativamente na forma de experimentar o texto. A coleção foi formada por sete títulos publicados ao longo de 11 anos, reunindo obras como “Primeiro Amor”, de Samuel Beckett e " Zazie no metrô", de Raymond Queneau. A seleção se deu pelos membros da empresa e resultou em uma extensa pesquisa que valorizava a expressividade das edições, unindo palavra e conteúdo visual no projeto final. Essas sete emblemáticas publicações inspiram outras casas literárias a enxergarem o design gráfico dos livros de um modo mais desafiador.


Entretanto, apesar da Cosac ser uma referência no campo do design gráfico, ela não pode ser um modelo de gestão financeira, deixando uma lacuna e um desafio ainda insondável: como publicar belas obras literárias e manter um baixo custo de produção? No caso da Cosac, desde o início das operações da empresa nunca existiu uma estratégia de  precificação das obras da que, muitas vezes, saíam das gráficas sem qualquer margem de lucro. Essas sucessivas faltas de estratégia de venda e de precificação culminaram na falência da empresa, anunciada em 2015. Quando Charles percebeu as concessões que teria que fazer para que seu negócio continuasse a existir, ele optou por não realizá-las. Mas cabe ressaltar que o legado da Cosac não foi solitário, o que também pode servir como inspiração para outras casas editoriais. Ao longo dos anos, a Cosac teve parcerias com o Instituto Goethe, que ocupa-se da difusão da cultura alemã em vários países no mundo. A partir dessa parceria, foi possível publicar obras como a coleção “Pensamento Alemão No Século XX”. Em 2003, a editora também traçou uma colaboração com o Instituto Iberê Camargo, publicando o livro “Diálogos com Iberê Camargo”, que reúne impressões sobre o artista do expressionismo brasileiro, além do calhamaço RAISONNÉ IBERÊ CAMARGO, que hoje chega a custar 600 reais.


Em sua trajetória, a Cosac Naify foi contemplada pelo Prêmio Jabuti, pela Fundação Nacional do Livro Infantil-FNILJ e Juvenil, recebeu o  Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional, entre outros prêmios que reconhecem o legado da editora comprometida com o refinamento sensível e expressivo que cada leitor pode carregar de uma leitura. A editora deixou como legado não somente obras primorosas mas também o sentimento de que conciliar alta qualidade editorial com sustentabilidade contábil continua sendo um desafio no Brasil. 



 

 
 
 

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